sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Do Olimpo ao “paredão”

Olimpianos são o seleto grupo de pessoas que, nos termos do visionário sociólogo francês Edgar Morin, ocupam a privilegiada condição de onipresentes nos mass media. O que lhes garante este status é uma visão distorcida de interesse público: a idéia de que a overdose de exposição desta trupe agrada ao paladar de uma numerosa audiência e, portanto, traduz-se em muito dinheiro no bolso. Lógica capitalista pura.
O resultado desta lógica é que, independentemente de serem geniais ou medíocres, os “olimpianos” são notícia por tudo o que fazem – e até pelo que não fazem, desde que isso se reverta em audiência. Isto vale especialmente para seus erros, fraquezas, escândalos e atos exóticos, em relação aos quais os mas media se comportam feito hienas no cerco às presas.
O mais grave é que grande parte dos “olimpianos” são celebridades midiáticas de fast food, efêmeras mercadorias de carne e osso que se destacam apenas pela aparência, rebeldia ou exotismo; raramente, pela cultura e inteligência. Sua popularidade se justifica pelo único propósito de serem digeridas e descartadas no embalo das conveniências dos chefs cuisines da grande mídia.
Ocorre que, uma hora, esta tigrada cansa e abusa da enorme indulgência dos brasileiros com este tipo de aberração, convertendo-os em críticos ácidos das suas tolices. Foi o que aconteceu na semana passada, quando o Ministério Público Federal tomou a corajosa decisão de apoiar a nota divulgada no último dia 17 pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil na qual a CNBB condenava o “baixo nível moral” dos reality shows – habitat supremo das celebridades midiáticas de fast food.
Com a palavra, o subprocurador-geral da República, Aurélio Rios: “Achamos que (a atração) é um grande desserviço e serve muito à deseducação. Não estimula a criação, o princípio de solidariedade, os valores éticos da pessoa e da família”.
Um dado para quem supõe que estas iniciativas partiram da Congregação da Doutrina da Fé, no Vaticano, ou dos antigos porões do DOI-CODI: só o BBB10 foi alvo de 400 denúncias no MPF. Entre elas, homofobia, incitação à violência e inadequação quanto ao horário de exibição. Ou seja: a própria sociedade começa a rejeitar este tipo de programa.
Por estas e tantas outras razões, faz todo sentido a decisão do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, de defender o marco regulatório do setor, que deverá resultar na criação de uma agência específica para cuidar do conteúdo veiculado pelas empresas de radiodifusão.
No caso em análise, assim como ocorre em qualquer país desenvolvido do mundo, a mídia televisiva precisa de limites. Não passa de reducionismo supor que o fato de podermos prestigiar a concorrência u desligar a TV resolve o problema. Se a concessão das rádios e TVs é restrita a políticos, empresários e poderosas corporações de mídia e se a baixa qualidade é problema comum a todas emissoras, é evidente que não basta mudarmos o seletor de canais para termos boa programação. Mudar de canal, como se diz no adágio popular, é trocar seis por meia dúzia.
Tem razão o diretor de Redação da Carta Capital, Mino Carta, quando classifica a imprensa de “mídia medieval”. Nosso consolo é saber que, ainda que tardiamente, há quem esteja preocupado em colocá-la, bem como suas crias – as celebridades midiáticas de fast food – no seu devido lugar: o “paredão” da lei, como diriam os brothers.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O iPad em sala de aula

Lançado em abril de 2010 e desde dezembro disponível oficialmente no Brasil, o iPad promete revolucionar a maneira como o conteúdo digital é acessado por seus usuários. Ostentando o visual de um “iPhone gigante”, com sua tela de touch-screen, o iPad trabalha como um computador portátil – é possível redigir e-mails, acessar sites na internet, exibir vídeos e ler versões digitais de livros, jornais e revistas. Além disso, como já acontecia com outros produtos do gênero, existe uma imensa gama de aplicativos desenvolvidos especialmente para o tablet da Apple. Baixados de forma gratuita ou a custo- de poucos dólares, os aplicativos (ou “apps”) são uma espécie de programa que acrescenta novos recursos ao iPad, como um jogo, um editor de texto mais arrojado ou um visualizador de mapas.
Apesar de a esmagadora maioria dos aplicativos ainda estar ligada ao mundo dos jogos eletrônicos e do entretenimento, uma pesquisa da Distimo, empresa especializada na análise de lojas de aplicativos, apontou que 8% dos cerca de 200 mil aplicativos produzidos em 2010 são voltados para a educação – atrás apenas dos games e do entretenimento. “De 15 anos para cá, estamos vivendo uma grande mudança na educação, com a chegada dos computadores e, principalmente, com a popularização da internet”, explica Luciana Allan, diretora do Instituto Crescer para a Cidadania e especialista em tecnologia aplicada à educação. “O iPad é mais uma tecnologia que chega às escolas e que tem mais um fator: a mobilidade. Ao contrário do que acontecia com os primeiros computadores, o aluno pode levar o iPad para qualquer lugar.”
O preço do tablet é salgado – a versão mais barata, de 16 GB, custa 1.649 reais. Não é para qualquer bolso, mas para quem gosta de tecnologia vale a pena conhecer a novidade. Veja alguns aplicativos que podem ser usados por professores e alunos em diferentes disciplinas em sala de aula.


quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Morte e vida nas favelas

A redução da explicação da criminalidade violenta à pobreza e desigualdade impede um entendimento mais complexo da questão. As interconexões entre a economia legal e a ilegal nos tráficos é também pouco acionada nas teorias necessárias para políticas públicas mais eficazes e democráticas. A disseminação das práticas do crime organizado, longe de se restringirem ao tráfico de drogas ilegais, inclui o tráfico de armas, de crianças e de mulheres, à corrupção.
Tampouco permite analisar os efeitos inesperados da violência que aumenta o sofrimento dos pobres. Isso na medida em que os obriga a viver entre tiranias – a dos traficantes e a das polícias – e limita seu ir e vir, sua liberdade- de expressão na vizinhança, além de tornar vulneráveis os jovens carentes. O acesso aos serviços e instituições do Estado – escolas, postos de saúde, quadras de esporte e vilas olímpicas – ficou restrito também para os profissionais que atendiam a população.
Nas favelas e bairros pobres adjacentes das grandes cidades brasileiras o policiamento é precário, a investigação, muitas vezes inexiste, diferentemente do que acontece nos bairros mais ricos da cidade. Este é um elemento importante na equação que vai explicar a existência de pontos quentes de crimes violentos, especialmente o homicídio, um crime quase nunca investigado nas áreas onde há favelas dominadas por traficantes. Além da vulnerabilidade que a pobreza cria, a rede de relações sociais e de proteção institucional do sistema de justiça tem enormes falhas em tais locais.
Em São Paulo, uma pesquisa apontou o homicídio como crime de pobres contra pobres. As autoras ressaltaram dois aspectos: 46,3% dos bairros visitados, todos nas zonas mais carentes da cidade, não contavam com ronda policial; a maior parte dos casos decorria de conflitos banais na periferia que poderiam ser evitados com políticas públicas que criassem formas de mediação na vizinhança ou na família. Por fim, a maior parte das vítimas teve morte anunciada e seus familiares sabiam do destino por terem elas vinculações com traficantes de drogas ilegais, seja como usuários contumazes, seja por participação em outros crimes.
No Rio de Janeiro, estimativas demográficas indiretas, a partir de dados censitários de 2000, permitiram a comparação entre diferentes regiões administrativas (RA) da cidade, entre as quais figuram as cinco mais populosas favelas em diferentes zonas da cidade. Por meio delas é possível identificar as regiões de maior risco de mortes violentas, estimando a probabilidade de se morrer jovem, antes dos 30 anos para quem sobreviveu até os 15, visto que nesta faixa de idade 80% das mortes são violentas.


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