Olimpianos são o seleto grupo de pessoas que, nos termos do visionário sociólogo francês Edgar Morin, ocupam a privilegiada condição de onipresentes nos mass media. O que lhes garante este status é uma visão distorcida de interesse público: a idéia de que a overdose de exposição desta trupe agrada ao paladar de uma numerosa audiência e, portanto, traduz-se em muito dinheiro no bolso. Lógica capitalista pura.
O resultado desta lógica é que, independentemente de serem geniais ou medíocres, os “olimpianos” são notícia por tudo o que fazem – e até pelo que não fazem, desde que isso se reverta em audiência. Isto vale especialmente para seus erros, fraquezas, escândalos e atos exóticos, em relação aos quais os mas media se comportam feito hienas no cerco às presas.
O mais grave é que grande parte dos “olimpianos” são celebridades midiáticas de fast food, efêmeras mercadorias de carne e osso que se destacam apenas pela aparência, rebeldia ou exotismo; raramente, pela cultura e inteligência. Sua popularidade se justifica pelo único propósito de serem digeridas e descartadas no embalo das conveniências dos chefs cuisines da grande mídia.
Ocorre que, uma hora, esta tigrada cansa e abusa da enorme indulgência dos brasileiros com este tipo de aberração, convertendo-os em críticos ácidos das suas tolices. Foi o que aconteceu na semana passada, quando o Ministério Público Federal tomou a corajosa decisão de apoiar a nota divulgada no último dia 17 pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil na qual a CNBB condenava o “baixo nível moral” dos reality shows – habitat supremo das celebridades midiáticas de fast food.
Com a palavra, o subprocurador-geral da República, Aurélio Rios: “Achamos que (a atração) é um grande desserviço e serve muito à deseducação. Não estimula a criação, o princípio de solidariedade, os valores éticos da pessoa e da família”.
Um dado para quem supõe que estas iniciativas partiram da Congregação da Doutrina da Fé, no Vaticano, ou dos antigos porões do DOI-CODI: só o BBB10 foi alvo de 400 denúncias no MPF. Entre elas, homofobia, incitação à violência e inadequação quanto ao horário de exibição. Ou seja: a própria sociedade começa a rejeitar este tipo de programa.
Por estas e tantas outras razões, faz todo sentido a decisão do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, de defender o marco regulatório do setor, que deverá resultar na criação de uma agência específica para cuidar do conteúdo veiculado pelas empresas de radiodifusão.
No caso em análise, assim como ocorre em qualquer país desenvolvido do mundo, a mídia televisiva precisa de limites. Não passa de reducionismo supor que o fato de podermos prestigiar a concorrência u desligar a TV resolve o problema. Se a concessão das rádios e TVs é restrita a políticos, empresários e poderosas corporações de mídia e se a baixa qualidade é problema comum a todas emissoras, é evidente que não basta mudarmos o seletor de canais para termos boa programação. Mudar de canal, como se diz no adágio popular, é trocar seis por meia dúzia.
Tem razão o diretor de Redação da Carta Capital, Mino Carta, quando classifica a imprensa de “mídia medieval”. Nosso consolo é saber que, ainda que tardiamente, há quem esteja preocupado em colocá-la, bem como suas crias – as celebridades midiáticas de fast food – no seu devido lugar: o “paredão” da lei, como diriam os brothers.