A concepção dualista do homem está implícita na tendência de biologização da Educação Física. Essa tendência tem como objetivos principais a manutenção da saúde corporal, a aquisição da aptidão física, que envolve o desenvolvimento de capacidades físicas e habilidades motoras, e a performance desportiva. Revelá-se, na prática escolar, em atividades físicas que caracterizam principalmente pela execução de movimentos mecânicos, destituídos de sentido para o aluno e, em geral, transmitido por comando pelo professor, cabendo ao aluno obedecer e imitar. A avaliação se dá somente por meio de critérios de rendimento e produtividade, privilegiando os alunos com maior capacidade desportiva.
Essa tendência valoriza sobretudo a competição e a formação tecnicista do atleta, em detrimento de princípios educacionais. Na prática desportiva, é favorecida uma forma de atuação, em que a performance técnica e tática é valorizada e avaliada sobretudo segundo modelos padronizados.
Essa tendência dissocia a Educação Física de um conceito de Educação, aproximando-se mais de um conceito de adestramento físico. Aliados a essa concepção, estão as tendências à militarização e à higienização, que perpassam a Educação Física.
A concepção antropológica implícita nessa tendência é de um profundo dualismo entre corpo e espírito. Educação Física, nessa perspectiva, visualiza sobretudo o corpo, vendo-o dissociado do homem com um todo ou como um instrumento da alma. O movimento deixa de ser o movimento de um ser total, cujo significado brota de sua interioridade, para tornar-se algo mecânico, direcionado desde fora e realizado com um mínimo de participação da sensibilidade e da afetividade, apenas uma reação a estímulos do meio.
Maria Augusta Salim Gonçalves