A Educação Física tem condições de se auto-sustentar a partir de fundamentos que lhe são próprios; fundamentos estes que tem a mesma densidade dos fundamentos das demais ciências humana. A Educação Física encontra seu fundamento básicos no antropológico, mas esse antropológico não é fornecido pelas teorias antropológicas, nem pelas teorias sociológicas, nem pelas teorias psicológicas, mas pelo próprio homem ou mais precisamente, pelo humano. É o humano que sustenta e alicerça a Educação Física.
É no homem diretamente que a Educação Física encontra sua razão de ser. O modo de ser do homem exige a Educação Física, como exige a educação intelectual e moral. Deve-se pensar com mais acerto, percebendo o homem global, como um todo unitário, assim toda a educação do homem, não apenas de uma parte.
A busca da realidade da Educação Física é a realidade humana. O homem é corporeidade e, como tal, é movimento, é gesto, é expressividade, é presença. Maurice Merleau ponty descreve esta presença do homem como corporeidade, não enquanto o homem se reduz a conceito de corpo material, mas enquanto fenômeno corporal, isto é, enquanto expressividade, palavras e linguagem. O homem instaura sua presença, ou define sua fenomenologia, como corporeidade. A presença é marcada pela postura. O homem não é nem uma nem outra. O homem é movimento, o movimento que se torna gesto, o gesto que fala, que instaura a presença expressiva, comunicativa e criadora. Aqui justamente neste espaço, está a Educação Física. Ela tem que ser gesto, o gesto que se fala, que fala. Não exercícios mecânicos, vazio e ritualístico. O gesto falante é o movimento que não se repete, mas que se refaz, e refeito diz cem vezes, tem sempre o sabor e a dimensão de ser inventado, feito pela primeira vez. A repetição criativa não cansa, não esgota o gesto, pois não é repetição, mas criação. Assim, ele é sempre movimento novo, diferente, original. Ele é arte.
Fragmentos do livro: Educação Física: uma abordagem filosófica da corporeidade. Silvino Santin.