O psiquiatra e especialista em dependência química Dartiu Xavier alerta para o aumento de consumo de crack e defende uma prevenção na escola menos policialesca
Um estudo inédito sobre o perfil e a quantidade dos usuários de crack no Brasil está sendo preparado pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), subordinada ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. O mapeamento vai analisar os 26 estados brasileiros, o Distrito Federal e as nove regiões metropolitanas e é reflexo de um grave problema de saúde pública. Embora sejam escassas as pesquisas sobre o crack, sabe-se que o consumo da droga derivada da cocaína (restrito a São Paulo na década de 90) vem se espalhando pelo País em diferentes classes sociais – não se restringe mais aos moradores de rua e grupos menos favorecidos. Além do aumento da apreensão de crack no Brasil (de 200 quilos, em 2002, para 580 quilos, em 2007, segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime), os serviços de atendimento a dependentes químicos relatam que a droga já é a segunda maior causa de procura por atendimento nos centros do SUS especializados em abuso de álcool e drogas, o Caps-AD. Nesses locais, o crack só perde para a bebida. É uma realidade que o psiquiatra Dartiu Xavier, da Faculdade Paulista de Medicina, conhece bem. Coordenador do Programa de Orientação e Tratamento a Dependentes (Proad) há mais de duas décadas, ele vem realizando estudos na área. Um deles foi interrompido pela polêmica que gerou. A experiência consistiu em acompanhar um grupo de 50 usuários de crack que passaram a utilizar maconha na tentativa de conter o impulso de consumir crack. Conforme os dados, 68% deles haviam trocado de droga depois de seis meses. Passado um ano do início do tratamento, quem fez a substituição deixou também a maconha.
Em todo o Brasil, houve aumento da procura por serviços de atendimento a dependentes químicos do crack. O número de apreensões também cresceu, o que aponta para o aumento do consumo. O que causou esse aumento?
Dartiu Xavier: A questão do consumo de drogas é multifatorial e, no caso do crack, é um fenômeno que ocorre no mundo todo, não só no Brasil. E tem a ver com os fatores de risco. Alguns são identificáveis: situações de exclusão social e desfavorecimento. Por outro lado, as classes mais abastadas também estão consumindo crack. O que acontece é que mesmo essas classes mais favorecidas têm uma série de problemas. A situação de abandono psicológico e o descaso são algo muito presente. Claro que, para um adolescente de rua, essa situação de abandono é patente.
Os jovens são mais vulneráveis às drogas?
DX: São, por uma série de motivos. Primeiro, tanto o adolescente quanto o adulto jovem estão numa fase de transgressão, contestação e experiência pelo novo. Isso marca muito para o bem e para o mal. Ajuda no desenvolvimento psicológico deles – a gente só consegue ser adulto com uma identidade própria quando contesta o modelo de pai e mãe. Existe também a questão da alteração de consciência promovida pela droga, que é um fascínio. Ser outra pessoa ainda que seja por algumas horas. Mas estamos falando de um uso experimental. Uma minoria se tornará dependente.
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