sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Do Olimpo ao “paredão”

Olimpianos são o seleto grupo de pessoas que, nos termos do visionário sociólogo francês Edgar Morin, ocupam a privilegiada condição de onipresentes nos mass media. O que lhes garante este status é uma visão distorcida de interesse público: a idéia de que a overdose de exposição desta trupe agrada ao paladar de uma numerosa audiência e, portanto, traduz-se em muito dinheiro no bolso. Lógica capitalista pura.
O resultado desta lógica é que, independentemente de serem geniais ou medíocres, os “olimpianos” são notícia por tudo o que fazem – e até pelo que não fazem, desde que isso se reverta em audiência. Isto vale especialmente para seus erros, fraquezas, escândalos e atos exóticos, em relação aos quais os mas media se comportam feito hienas no cerco às presas.
O mais grave é que grande parte dos “olimpianos” são celebridades midiáticas de fast food, efêmeras mercadorias de carne e osso que se destacam apenas pela aparência, rebeldia ou exotismo; raramente, pela cultura e inteligência. Sua popularidade se justifica pelo único propósito de serem digeridas e descartadas no embalo das conveniências dos chefs cuisines da grande mídia.
Ocorre que, uma hora, esta tigrada cansa e abusa da enorme indulgência dos brasileiros com este tipo de aberração, convertendo-os em críticos ácidos das suas tolices. Foi o que aconteceu na semana passada, quando o Ministério Público Federal tomou a corajosa decisão de apoiar a nota divulgada no último dia 17 pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil na qual a CNBB condenava o “baixo nível moral” dos reality shows – habitat supremo das celebridades midiáticas de fast food.
Com a palavra, o subprocurador-geral da República, Aurélio Rios: “Achamos que (a atração) é um grande desserviço e serve muito à deseducação. Não estimula a criação, o princípio de solidariedade, os valores éticos da pessoa e da família”.
Um dado para quem supõe que estas iniciativas partiram da Congregação da Doutrina da Fé, no Vaticano, ou dos antigos porões do DOI-CODI: só o BBB10 foi alvo de 400 denúncias no MPF. Entre elas, homofobia, incitação à violência e inadequação quanto ao horário de exibição. Ou seja: a própria sociedade começa a rejeitar este tipo de programa.
Por estas e tantas outras razões, faz todo sentido a decisão do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, de defender o marco regulatório do setor, que deverá resultar na criação de uma agência específica para cuidar do conteúdo veiculado pelas empresas de radiodifusão.
No caso em análise, assim como ocorre em qualquer país desenvolvido do mundo, a mídia televisiva precisa de limites. Não passa de reducionismo supor que o fato de podermos prestigiar a concorrência u desligar a TV resolve o problema. Se a concessão das rádios e TVs é restrita a políticos, empresários e poderosas corporações de mídia e se a baixa qualidade é problema comum a todas emissoras, é evidente que não basta mudarmos o seletor de canais para termos boa programação. Mudar de canal, como se diz no adágio popular, é trocar seis por meia dúzia.
Tem razão o diretor de Redação da Carta Capital, Mino Carta, quando classifica a imprensa de “mídia medieval”. Nosso consolo é saber que, ainda que tardiamente, há quem esteja preocupado em colocá-la, bem como suas crias – as celebridades midiáticas de fast food – no seu devido lugar: o “paredão” da lei, como diriam os brothers.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O iPad em sala de aula

Lançado em abril de 2010 e desde dezembro disponível oficialmente no Brasil, o iPad promete revolucionar a maneira como o conteúdo digital é acessado por seus usuários. Ostentando o visual de um “iPhone gigante”, com sua tela de touch-screen, o iPad trabalha como um computador portátil – é possível redigir e-mails, acessar sites na internet, exibir vídeos e ler versões digitais de livros, jornais e revistas. Além disso, como já acontecia com outros produtos do gênero, existe uma imensa gama de aplicativos desenvolvidos especialmente para o tablet da Apple. Baixados de forma gratuita ou a custo- de poucos dólares, os aplicativos (ou “apps”) são uma espécie de programa que acrescenta novos recursos ao iPad, como um jogo, um editor de texto mais arrojado ou um visualizador de mapas.
Apesar de a esmagadora maioria dos aplicativos ainda estar ligada ao mundo dos jogos eletrônicos e do entretenimento, uma pesquisa da Distimo, empresa especializada na análise de lojas de aplicativos, apontou que 8% dos cerca de 200 mil aplicativos produzidos em 2010 são voltados para a educação – atrás apenas dos games e do entretenimento. “De 15 anos para cá, estamos vivendo uma grande mudança na educação, com a chegada dos computadores e, principalmente, com a popularização da internet”, explica Luciana Allan, diretora do Instituto Crescer para a Cidadania e especialista em tecnologia aplicada à educação. “O iPad é mais uma tecnologia que chega às escolas e que tem mais um fator: a mobilidade. Ao contrário do que acontecia com os primeiros computadores, o aluno pode levar o iPad para qualquer lugar.”
O preço do tablet é salgado – a versão mais barata, de 16 GB, custa 1.649 reais. Não é para qualquer bolso, mas para quem gosta de tecnologia vale a pena conhecer a novidade. Veja alguns aplicativos que podem ser usados por professores e alunos em diferentes disciplinas em sala de aula.


quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Morte e vida nas favelas

A redução da explicação da criminalidade violenta à pobreza e desigualdade impede um entendimento mais complexo da questão. As interconexões entre a economia legal e a ilegal nos tráficos é também pouco acionada nas teorias necessárias para políticas públicas mais eficazes e democráticas. A disseminação das práticas do crime organizado, longe de se restringirem ao tráfico de drogas ilegais, inclui o tráfico de armas, de crianças e de mulheres, à corrupção.
Tampouco permite analisar os efeitos inesperados da violência que aumenta o sofrimento dos pobres. Isso na medida em que os obriga a viver entre tiranias – a dos traficantes e a das polícias – e limita seu ir e vir, sua liberdade- de expressão na vizinhança, além de tornar vulneráveis os jovens carentes. O acesso aos serviços e instituições do Estado – escolas, postos de saúde, quadras de esporte e vilas olímpicas – ficou restrito também para os profissionais que atendiam a população.
Nas favelas e bairros pobres adjacentes das grandes cidades brasileiras o policiamento é precário, a investigação, muitas vezes inexiste, diferentemente do que acontece nos bairros mais ricos da cidade. Este é um elemento importante na equação que vai explicar a existência de pontos quentes de crimes violentos, especialmente o homicídio, um crime quase nunca investigado nas áreas onde há favelas dominadas por traficantes. Além da vulnerabilidade que a pobreza cria, a rede de relações sociais e de proteção institucional do sistema de justiça tem enormes falhas em tais locais.
Em São Paulo, uma pesquisa apontou o homicídio como crime de pobres contra pobres. As autoras ressaltaram dois aspectos: 46,3% dos bairros visitados, todos nas zonas mais carentes da cidade, não contavam com ronda policial; a maior parte dos casos decorria de conflitos banais na periferia que poderiam ser evitados com políticas públicas que criassem formas de mediação na vizinhança ou na família. Por fim, a maior parte das vítimas teve morte anunciada e seus familiares sabiam do destino por terem elas vinculações com traficantes de drogas ilegais, seja como usuários contumazes, seja por participação em outros crimes.
No Rio de Janeiro, estimativas demográficas indiretas, a partir de dados censitários de 2000, permitiram a comparação entre diferentes regiões administrativas (RA) da cidade, entre as quais figuram as cinco mais populosas favelas em diferentes zonas da cidade. Por meio delas é possível identificar as regiões de maior risco de mortes violentas, estimando a probabilidade de se morrer jovem, antes dos 30 anos para quem sobreviveu até os 15, visto que nesta faixa de idade 80% das mortes são violentas.


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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Plano Nacional da Educação é encaminhado ao Congresso

O projeto de lei do Plano Nacional de Educação (PNE) para o decênio 2011-2020 foi encaminhado ao Congresso Nacional na manhã desta quarta-feira 15. A solenidade ocorreu no Palácio do Planalto com participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do ministro da Educação, Fernando Haddad, além de representantes da Conferência Nacional de Educação (Conae), responsáveis pela elaboração da nova proposta.
Criado em 1996 para estabelecer os principais objetivos da educação nacional por dez anos, a primeira versão do PNE, que vigorou entre 2001 e 2010, foi marcada pelo excesso de metas. Das 295, menos de 30% foi cumprida até o final deste ano. “O importante é fixar menos metas e fiscalizá-las. Quando se vigia a ação, fica mais fácil adequar os meios às finalidades propostas”, defendeu o pedagogo Dermeval Saviani em entrevista à Carta na Escola (leia a matéria de Fernando Vives). Nesse aspecto, o novo PNE parece ser promissor: são 20 metas e dez diretrizes objetivas que contemplam valorização dos professores, acesso aos ciclos de ensino do infantil ao superior, alfabetização, entre outros.
Outro ponto que diferencia os dois planos trata de financiamento. Quando foi aprovado, o primeiro PNE previa que 7% do PIB brasileiro deveria ir para a educação, mas o então presidente Fernando Henrique Cardoso vetou a proposta. Com a aprovação da Emenda Constitucional 59, no final de 2008, o Presidente da República fica obrigado a destinar um porcentual do PIB à área. O texto enviado ao congresso por Haddad e Lula estipula os mesmos 7%.
Uma vez enviado ao Congresso, o projeto de lei será discutido no próxima administração. A previsão é de aprovação no primeiro semestre de 2011.
Metas e desafios
Cerca de 20% das metas afetam a valorização e formação do corpo docente. Primeiro, o PNE estipula que todos os professores do ensino básico deverão ter ensino superior, sendo metade com formação continuada com pós-graduação. Além do mais, os sistemas de ensino terão de elaborar, num prazo de dois anos, planos de carreira para o magistério.

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Ministro da Educação afirma que salário de professor será prioridade no governo Dilma

O Ministério da Educação do governo Dilma Russef deverá ter participação mais ativa nas questões que envolvem o professor, informou o ministro Fernando Haddad em entrevista.
"A novidade é o Plano Nacional de Educação, com 20 metas definidas em 170 estratégias [enviado ao Congresso na semana passada]. Tem foco acentuado no professor. Uma das metas é equalizar o salário com os outros profissionais de nível superior [hoje, há diferença de 60%]."
Ele ainda defendeu o MEC da responsabilidade sobre falhas no Enem e afirmou que o ideal é ter mais de uma prova por ano.
"Os problemas mais marcantes tiveram origem no setor privado, não no público. Uma gráfica pecou [2009] por falta de segurança e a outra por excesso de segurança [2010], porque a conferência de todos os lotes de prova dependia de um manuseio que se tentou evitar ao máximo para que não se repetisse o que houve no ano passado", comunicou.
Haddad disse que problemas como esse ocorrem em todos os lugares onde há exames desse porte. "Ou bem aproveitamos para aprender com as eventuais falhas sem abdicar de um processo transformador ou essa evolução não vai se dar por um temor que é justificável, mas superável."

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Alckmin vai mudar a progressão continuada na rede de ensino a partir de 2012

O governo Geraldo Alckmin (PSDB) decidiu alterar a progressão continuada na rede estadual de ensino. A principal mudança deverá ocorrer no sistema de reprovação dos estudantes.
Hoje, o aluno do fundamental só pode repetir ao final do quinto e do nono ano. A ideia é que a retenção ocorra também no terceiro ano. Assim, o número de ciclos sobe de dois para três. A antecipação da reprovação permite que o aluno com sérias dificuldades seja recuperado mais rapidamente (em vez de demorar cinco anos para refazer uma série, passe a ser depois de três).
A Folha apurou que já está finalizado estudo com o novo desenho do programa. "Pessoalmente, acho que vamos ficar mesmo com três ciclos", afirmou o novo secretário-adjunto da Educação, João Cardoso Palma Filho, ao ser indagado pela reportagem. Ele ressaltou, porém, que o assunto ainda está em análise na secretaria.







sábado, 1 de janeiro de 2011

Camisinhas ao alcance

Instalada no pátio, no corredor, no banheiro ou mesmo na enfermaria da escola, uma máquina semelhante às utilizadas para vender refrigerantes e salgadinhos pode ser a fonte em que alunos do Ensino Médio da rede pública poderão conseguir pacotes de preservativos. Este cenário será realidade caso vingue o projeto piloto para instalar máquinas automáticas de distribuição de camisinhas nas escolas. Fruto de parceria entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação, a iniciativa faz parte do Projeto Saúde e Prevenção nas Escolas (SPE), que conta com o apoio de órgãos como a Unesco e o Unicef.

“A escola é mais um espaço para o jovem ter acesso aos insumos de prevenção e à informação também”, explica Nara Vieira, do Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais, órgão ligado ao Ministério da Saúde. Trazer a camisinha para dentro da escola é apenas uma das ações do SPE, cujo objetivo global é promover a saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes, ao articular políticas públicas que tornem os jovens menos vulneráveis a doenças sexualmente transmissíveis e à Aids. Contribuir para a redução dos índices de evasão escolar causados pela gravidez na adolescência também é uma das metas do programa. “A partir do momento em que há uma máquina dispensadora de preservativos na escola, sem dúvida ela vai despertar interesse para discutir sobre o tema da prevenção.”


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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Drogas e adolescência

O psiquiatra e especialista em dependência química Dartiu Xavier alerta para o aumento de consumo de crack e defende uma prevenção na escola menos policialesca
Um estudo inédito sobre o perfil e a quantidade dos usuários de crack no Brasil está sendo preparado pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), subordinada ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. O mapeamento vai analisar os 26 estados brasileiros, o Distrito Federal e as nove regiões metropolitanas e é reflexo de um grave problema de saúde pública. Embora sejam escassas as pesquisas sobre o crack, sabe-se que o consumo da droga derivada da cocaína (restrito a São Paulo na década de 90) vem se espalhando pelo País em diferentes classes sociais – não se restringe mais aos moradores de rua e grupos menos favorecidos. Além do aumento da apreensão de crack no Brasil (de 200 quilos, em 2002, para 580 quilos, em 2007, segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime), os serviços de atendimento a dependentes químicos relatam que a droga já é a segunda maior causa de procura por atendimento nos centros do SUS especializados em abuso de álcool e drogas, o Caps-AD. Nesses locais, o crack só perde para a bebida. É uma realidade que o psiquiatra Dartiu Xavier, da Faculdade Paulista de Medicina, conhece bem. Coordenador do Programa de Orientação e Tratamento a Dependentes (Proad) há mais de duas décadas, ele vem realizando estudos na área. Um deles foi interrompido pela polêmica que gerou. A experiência consistiu em acompanhar um grupo de 50 usuários de crack que passaram a utilizar maconha na tentativa de conter o impulso de consumir crack. Conforme os dados, 68% deles haviam trocado de droga depois de seis meses. Passado um ano do início do tratamento, quem fez a substituição deixou também a maconha.

Em todo o Brasil, houve aumento da procura por serviços de atendimento a dependentes químicos do crack. O número de apreensões também cresceu, o que aponta para o aumento do consumo. O que causou esse aumento?

Dartiu Xavier: A questão do consumo de drogas é multifatorial e, no caso do crack, é um fenômeno que ocorre no mundo todo, não só no Brasil. E tem a ver com os fatores de risco. Alguns são identificáveis: situações de exclusão social e desfavorecimento. Por outro lado, as classes mais abastadas também estão consumindo crack. O que acontece é que mesmo essas classes mais favorecidas têm uma série de problemas. A situação de abandono psicológico e o descaso são algo muito presente. Claro que, para um adolescente de rua, essa situação de abandono é patente.

Os jovens são mais vulneráveis às drogas?

DX: São, por uma série de motivos. Primeiro, tanto o adolescente quanto o adulto jovem estão numa fase de transgressão, contestação e experiência pelo novo. Isso marca muito para o bem e para o mal. Ajuda no desenvolvimento psicológico deles – a gente só consegue ser adulto com uma identidade própria quando contesta o modelo de pai e mãe. Existe também a questão da alteração de consciência promovida pela droga, que é um fascínio. Ser outra pessoa ainda que seja por algumas horas. Mas estamos falando de um uso experimental. Uma minoria se tornará dependente.

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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Na mira dos alunos

Professores são alvo de estudantes que, por causa de uma nota baixa ou pura implicância, usam a internet para humilhá-los publicamente

As tecnologias da informação e comunicação, os computadores e os celulares tornaram-se meios facilitadores para publicar imagens e comentários depreciativos. Em blogs, fotologs e redes sociais, alunos ofendem e fazem chacota de seus professores ou demais funcionários da escola, com discursos de ódio que muitas vezes incidem em crimes de injúria, calúnia e difamação. Essa “nova moda” tem nome e chama-se ciberbullying, uma violência virtual que se multiplica de maneira inimaginável na internet.
Nos softwares sociais, como o Facebook, Bebo, MySpace, Linkedin, Hi5 e Orkut, esse último preferido entre crianças e adolescentes e que mantém hegemonia no País com 26,6 milhões de perfis. Comunidades são criadas para expor críticas e rejeição a um determinado professor. Assim, alunos buscam ofender e ridicularizar a figura do docente, usando imagens de animais (burro, macaco), bruxas, caveiras ou até mesmo com algum desenho pornográfico.
No Orkut, eles encontram um canal extremamente eficiente para poder extravasar suas desilusões, alegrias, frustrações e, principalmente, ódio e ressentimento com relação a uma nota baixa que tiraram em alguma avaliação da aprendizagem.
Nas comunidades, fotos de professores recebem efeitos especiais negativos. Internautas, de maneira anônima ou não, os criticam sem qualquer censura, fazem votações on-line para humilhar o alvo de seus ataques.
Essas comunidades afetam os professores de forma sucessiva e sua imagem é prejudicada e exposta a vários alunos de diferentes séries da escola, que podem, inclusive, participar postando mensagens ofensivas. Lidos por uma quantidade grande de alunos, esses comentários criam e disseminam uma imagem negativa do professor.



IMAGEM DA PROFISSÃO

Os efeitos do ciberbullying podem ser ainda mais graves que os efeitos das agressões físicas, pois têm potencial muito maior de macular a imagem das vítimas e, de certa forma, é mais seguro para os agressores, por conta do suposto anonimato da internet.
Esse tipo de violência tem contribuído ainda mais para fazer aflorar a questão da insatisfação dos professores no magistério, um tema que tem sido objeto de estudos cada vez mais frequentes nos últimos anos, tanto no Brasil como em outros países. Fatores como o estresse da profissão, associado ao excesso de trabalho, baixos salários, desvalorização profissional, dificuldades materiais, indisciplina do aluno e violência na escola, entre outros, são entendidos como causadores do chamado “Mal-estar docente”.
Essas situações podem ainda levar à manifestação de uma síndrome denominada Burnout – um distúrbio psíquico de caráter depressivo, precedido de esgotamento físico e mental intenso, cuja causa está intimamente ligada à vida profissional. A síndrome de Burnout (do inglês to burn out, queimar por completo) foi assim denominada pelo psicanalista nova-iorquino Freudenberger, após constatá-la em si mesmo, no início dos anos 70.
É preciso atentar para a gravidade da questão. No entanto, decisões provisórias, sem o enfrentamento cuidadoso do problema, só vão continuar a manutenção do efeito negativo na saúde do professor e desenvolvimento do ensino e aprendizagem de crianças e adolescentes.
As escolas devem saber das medidas judiciais que professores podem tomar e ações pedagógicas que podem ser implementadas. Sem isso, os alunos continuarão a repetir essas atitudes porque terão certeza da impunidade. Vão continuar sentindo-se à vontade para arruinar a imagem do professor ou de qualquer outra pessoa. Dar essa permissão é comprometer a própria formação do aluno.



MEDIDAS PREVENTIVAS

As vítimas de ciberbullying têm o direito de prestar queixa e pedir sanções penais. Caso o autor das ofensas tenha menos de 16 anos, os pais serão processados por injúria, calúnia e difamação. Se tiver entre 16 e 18 anos, responderá com os pais. E se tiver mais de 18 anos, assumirá a responsabilidade pelos crimes.
Para garantias legais, salve e imprima as páginas da internet onde foram divulgadas as mensagens de difamação ou ofensa sofrida e procure testemunhas. Não hesite em prestar queixa em delegacia comum ou naquela especializada em crimes virtuais, se houver uma em sua cidade.
Outras dicas pedagógicas são fundamentais e podem ajudar na conscientização dos alunos: dialogue com eles sobre o ciberbullying, para que não vejam esse ato como brincadeira.
Mostre a repercussão e a responsabilidade jurídica que esses atos podem levar. Converse também com os pais, realize palestras com toda comunidade escolar. Verifique se o regimento interno da escola prevê sanções a quem pratica atos agressivos. Em caso negativo, discuta com colegas gestores a possibilidade de incluir o tema.
Participe mais das redes sociais na internet, expresse suas opiniões, combata as agressões com diálogo; é preciso assumir os espaços das redes sociais como espaço de aprendizagens, cooperação e formação. Conheça as representações que os alunos possuem sobre sua prática pedagógica e reflita sobre elas. Assim, poderemos começar a trilhar um caminho mais eficaz em relação ao combate do ciberbullying.

Telma Brito Rocha




A leitura como aventura e paixão

O professor nunca deve proibir um livro. Mesmo que a obra seja ruim ou inadequada, a missão do educador é fazer o aluno entender os motivos disso.

O romance de Ray Brad-bury, Fahrenheit 451, publicado em 1953, fala-nos de um futuro em que opiniões pessoais e o pensamento crítico são considerados coisas perigosas e no qual todos os livros são proibidos e queimados: o número 451 do título refere-se à temperatura (em graus Fahrenheit) na qual o papel pega fogo. Trata-se, obviamente de ficção, mas houve momentos em que essa ficção expressou a realidade. A censura acompanhou como um sombrio espectro boa parte da história da humanidade. O próprio termo “censor”, que é latino, data do século quinto antes de Cristo, quando o Império Romano delegou a funcionários a tarefa de moldar o caráter das pessoas. Mas não só em Roma acontecia isso; na Grécia clássica, em 399 a.C., o filósofo Sócrates foi condenado à morte por difundir entre jovens ideias consideradas perigosas. Desde então, não foram poucos os regimes totalitários que prenderam ou mataram aqueles que ousavam contestá-los.
A partir da invenção da imprensa, por Johannes Gutenberg, no século XV, o livro impresso passou a ser um alvo preferencial nesse processo. Já em 1559, a Igreja estabelecia o Index Librorum Prohibitorum, a lista de livros que os fiéis não podiam ler, e que teve mais de 20 edições, antes de ser definitivamente suprimida em 1966. As autoridades civis exerciam poder semelhante; em 1563, o rei Carlos IX, da França, baixou decreto estabelecendo que nenhuma obra podia ser impressa sem permissão do rei. Nos séculos que se seguiram, e sob várias formas e pretextos, livros foram proibidos e até queimados, como aconteceu na Alemanha nazista. Os motivos, ou pretextos, eram de várias ordens: morais, políticos, militares. Nos Estados Unidos, em vários lugares e por várias instituições, foram censurados livros como Chapeuzinho Vermelho (numa das versões a menina oferece vinho para a sua avó), Alice no País das Maravilhas (os animais falam com linguagem humana), a coleção Harry Potter (supostamente promove bruxaria). Numa época, direções de escolas no Rio Grande do Sul proibiram os livros de Erico Verissimo, porque achavam ser imorais.
No Brasil, tivemos um período de censura severa, quando do regime autoritário (1964-1985). As razões apresentadas não raro beiravam o ridículo; numa exposição de “material subversivo” apreendido em Porto Alegre, havia um livro com a seguinte legenda: “Obra esquerdista em chinês”. Era uma Bíblia em hebraico. Mais recentemente, e nas escolas, surgiram problemas com livros que narravam cenas de sexo e de violência, às vezes selecionados por técnicos da área educacional. Por outro lado, sabemos que a disseminação da pornografia e da violência é cada vez mais frequente. E isso sem falar na questão do politicamente correto, que procura evitar palavras ou expressões potencialmente ofensivas a grupos étnicos ou religiosos, ou a opções sexuais. Pergunta: o que devem fazer os pais e educadores diante dessa situação?
Creio que uma expressão consagrada pela saúde pública aqui se aplica perfeitamente: é melhor prevenir do que remediar. E isso por uma simples razão: é tão grande o volume de informações atualmente disseminadas, não só por livros, mas também pela internet, por vídeos, pela própria tevê, que é impossível evitar o acesso de crianças e jovens a esse material. O melhor é prepará-los para que possam identificar os potenciais riscos que estão ocorrendo. Mas há um aspecto adicional. Esses riscos não são como os do fumo ou das drogas, substâncias sempre nocivas, e que, em qualquer dose, envenenam o organismo. O material veiculado pelos meios de comunicação pode se transformar numa fonte de aprendizado. É como vacinar uma pessoa: ela é inoculada com germes inativos e seu organismo preparará anticorpos que vão defender essa pessoa de doenças. Isso exige um estreitamento dos laços entre pais e professores, de um lado, e os jovens de outro. No caso da tevê, por exemplo, é muito bom que o pai ou a mãe sente ao lado da criança e converse com ela sobre o que aparece na tela. Também é muito bom que os pais leiam para os filhos quando esses ainda são pequenos. Isso, além de introduzir a criança ao mundo dos livros, representará um vínculo emocional que persistirá por toda a vida. O menino e a menina associarão o livro à imagem protetora do pai ou da mãe.
Em relação à escola, vale o mesmo raciocínio. Quando um jovem me pergunta que livros deve ler, respondo: “Em primeiro lugar, aqueles que os professores indicam; eles conhecem o assunto, eles têm condições de fazer boas recomendações”. Mas nunca digo que o jovem não deve ler tal ou qual obra, tal ou qual autor. Meu aprendizado como leitor passou por livros que depois considerei tolos ou ruins. Mas isso foi útil para que eu pudesse aprender a formar o meu juízo crítico. Na leitura, a gente avança pelo método de tentativa e erro, de aproximações sucessivas.
Em resumo, proibir ou censurar, não. Recomendar, debater, ensinar, sim. Vivemos num mundo cheio de imperfeições e perigos, e o que podemos fazer com nossos filhos e alunos é ensiná-los a navegar por esse mar turbulento, em navios cujas velas são as páginas da grande literatura. Ler é aventura, ler é paixão.

Moacyr Scliar