sexta-feira, 4 de maio de 2012

Carlos Drummond de Andrade


Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em
casa dizendo que vira no campo dois dragões-daindependência
cuspindo fogo e lendo fotonovelas.
A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte
ele veio contando que caíra no pátio da escola um
pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos, feito
queijo, e ele provou e tinha gosto de queijo. Desta
vez Paulo não só fi cou sem sobremesa como foi
proibido de jogar futebol durante quinze dias.
Quando o menino voltou falando que todas as
borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá
Elpídia e queriam formar um tapete voador para
transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu
levá-lo ao médico. Após o exame, o
Dr. Epaminondas abanou a cabeça:
- Não há nada a fazer, Dona Coló. Este menino é
mesmo um caso de poesia.

Carlos Drummond de Andrade

Henry Giroux


Henry Giroux, professor nos Estados Unidos da América, um dos maiores representantes da teoria crítica educacional na atualidade, enquanto educador aborda questões de importância teórica, política e pedagógica refletindo o papel da educação escolar. Ele questiona o funcionamento das escolas em questão da ordem social democrática e igualitária defendida pelos países ocidentais.
As obras de Giroux oferecem aos educadores uma linguagem crítica para ajudá-los a compreender o ensino como uma forma de política cultural. A pedagogia de Paulo Freire e o pensamento de Gramsci já haviam alertado Giroux para as várias maneiras nas quais a ideologia é estabelecida e legitimada por meio das mediações e determinações multidirecionais de cultura, classe, etnia, poder e gênero[1]. Conseqüentemente Giroux considera que os professores precisam descobrir em seus estudantes como o significado é ativamente construído através de múltiplas formações da experiência vivida que dá as suas vidas um sentido de esperança e possibilidade. "Os estudantes deveriam aprender a compreender as possibilidades transformadoras da experiência". (GIROUX:1981)

A mídia como corpo docente

As sociedades contemporâneas transferiram, pouco a pouco, os cuidados com as crianças das famílias para as escolas, a formação e informação cognitiva, moral, sexual, religiosa, cívica etc., passou a ser entendida como uma tarefa essencial do espaço escolar, em substituição a uma convivência familiar cada vez mais restrita em qualidade e quantidade.
Por isso, quando nos aproximamos do início do ano letivo, não são só as aulas que chegam; na prática, é a entrada ou reentrada da nossa infância e adolescência no território que se supõe seja o mais adequado para elas estarem ("em vez de ficarem nas ruas ou shoppings"...). Há, assim, uma crescente sacralização do espaço escolar como sendo um lugar de proteção/formação/salvação e, por consequência, uma maior responsabilização das educadoras e dos educadores na guarida das gerações vindouras; no entanto, essa responsabilidade beira a culpabilização, como se a escola e os profissionais nela presentes tivessem, isoladamente, o exclusivo dever de dar conta de toda a complexidade presente na educação da juventude. 
É preciso, porém, observar um fenômeno que explodiu nos últimos 20 anos: uma criança dos centros urbanos, a partir dos dois anos de idade, assiste, em média, três horas diárias de televisão, o que resulta em mais de 1000 horas como espectadora durante um ano (sem contar as outras mídias eletrônicas como rádio, cinema e computador); ao chegar aos sete anos, idade escolar obrigatória, ela já assistiu a mais de 5000 horas de programação televisiva. Vamos enfatizar: uma criança, no dia em que entrar no Ensino Fundamental, pisará na escola já tendo sido espectadora de mais de cinco mil horas de televisão!
Quando pensamos no campo da formação ética e de cidadania, os problemas na educação brasileira não são, evidentemente, um ônus a recair prioritariamente sobre o corpo docente escolar; há um outro corpo docente não-escolar com uma estupenda e eficaz ascendência sobre as crianças e jovens.
Cinco mil horas! Imagine-se a responsabilidade daqueles e daquelas que produzem as programações e as publicidades! Pense-se no impacto formativo sobre os valores, hábitos, normas, regras e saberes que os profissionais dessa área de mídia têm sobre os infantes e sobre a chamada "primeira infância", época na qual uma parte do carácter permanecente da pessoa se estrutura.
É claro que isso obriga também aos que lidam com educação escolar rever os objetivos e a metodologia de trabalho; afinal, crianças pequenas não chegam mais à escola sem alguma base de conhecimento e informação científica e social, dado que têm outras fontes de cultura no cotidiano. Entretanto, essa erotização precoce, consumismo desvairado, competição e não cooperação, individualismo etc., podem estar sendo " ensinados" sem que os na mídia envolvidos deem conta disso.
Vale, pois, lembrar o que, em 1980,nos contou Adélia Prado em Cacos para um vitral ( com seu estilo simuladamente ingênuo e deveras percuciente), descrevendo uma cena familiar noturna em uma sala em pequenina cidade das Minas gerais, quando fictícios personagens de novela borrifavam sues efeitos concretos na vida real:" Anselmo Vargas beijava Margot na novel das sete. O menininho de Matilde pediu: mãe, muda o programa. Meu pintinho fica ruim"...

Mario Sergio Cortella
Livro: Não nascemos protos: provocações filosóficas

Não nascemos prontos!



O sempre surpreendente Guimarães Rosa dizia: " o animal satisfeito dorme". Por trás dessa aparente obviedade está um dos mais fundos alertas contra o risco de cairmos na monotonia existencial, na redundância afetiva e na indigência intelectual. O que o escritor tão bem percebeu é que a condição humana perde substância e energia vital toda vez que se sente plenamente confortável com a maneira como as coisas já estão, rendendo-se à sedução do repouso e imobilizando-se na acomodação.
A advertência é preciosa: não esquecer que a satisfação conclui, encerra, termina; a satisfação não deixa margem para a continuidade, para o prosseguimento, para a persistência, para o desdobramento. A satisfação acalma, limita amortece.
Por isso, quando alguém diz " fiquei muito satisfeito com você" ou " estou muito satisfeito com teu trabalho", é assustador. O que se quer dizer com isso? Que nada mais de mim se deseja? Que o ponto atual é meu limite e, portanto, minha possibilidade? Que de mim nada mais além se pode esperar? Que está bom como está? Assim seria apavorante; passaria a ideia de que desse jeito já basta. Ora, o agradável é quando alguém diz: " teu trabalho é bom, fiquei muito insatisfeito e, portanto quero mais, quero continuar, quero conhecer outra coisas".

Mario Sergio Cortella

Não nascemos prontos!


quinta-feira, 3 de maio de 2012

Patch Adams - Roda Viva


Identidade da Educação Física

A Educação Física tem condições de se auto-sustentar a partir de fundamentos que lhe são próprios; fundamentos estes que tem a mesma densidade dos fundamentos das demais ciências humana. A Educação Física encontra seu fundamento básicos no antropológico, mas esse antropológico não é fornecido pelas teorias antropológicas, nem pelas teorias sociológicas, nem pelas teorias psicológicas, mas pelo próprio homem ou mais precisamente, pelo humano. É o humano que sustenta e alicerça a Educação Física.
É no homem diretamente que a Educação Física encontra sua razão de ser. O modo de ser do homem exige a Educação Física, como exige a educação intelectual e moral. Deve-se pensar com mais acerto, percebendo o homem global, como um todo unitário, assim toda a educação do homem, não apenas de uma parte.
A busca da realidade da Educação Física é a realidade humana. O homem é corporeidade e, como tal, é movimento, é gesto, é expressividade, é presença. Maurice Merleau ponty descreve esta presença do homem como corporeidade, não enquanto o homem se reduz a conceito de corpo material, mas enquanto fenômeno corporal, isto é, enquanto expressividade, palavras e linguagem. O homem instaura sua presença, ou define sua fenomenologia, como corporeidade. A presença é marcada pela postura. O homem não é nem uma nem outra. O homem é movimento, o movimento que se torna gesto, o gesto que fala, que instaura a presença expressiva, comunicativa e criadora. Aqui justamente neste espaço, está a Educação Física. Ela tem que ser gesto, o gesto que se fala, que fala. Não exercícios mecânicos, vazio e ritualístico. O gesto falante é o movimento que não se repete, mas que se refaz, e refeito diz cem vezes, tem sempre o sabor e a dimensão de ser inventado, feito pela primeira vez. A repetição criativa não cansa, não esgota o gesto, pois não é repetição, mas criação. Assim, ele é sempre movimento novo, diferente, original. Ele é arte.

Fragmentos do livro: Educação Física: uma abordagem filosófica da corporeidade. Silvino Santin.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

katia Rubio





Concepção dualista do homem

A concepção dualista do homem está implícita na tendência de biologização da Educação Física. Essa tendência tem como objetivos principais a manutenção da saúde corporal, a aquisição da aptidão física, que envolve o desenvolvimento de capacidades físicas e habilidades motoras, e a performance desportiva. Revelá-se, na prática escolar, em atividades físicas que caracterizam principalmente pela execução de movimentos mecânicos, destituídos de sentido para o aluno e, em geral, transmitido por comando pelo professor, cabendo ao aluno obedecer e imitar. A avaliação se dá somente por meio de critérios de rendimento e produtividade, privilegiando os alunos com maior capacidade desportiva.
Essa tendência valoriza sobretudo a competição e a formação tecnicista do atleta, em detrimento de princípios educacionais. Na prática desportiva, é favorecida uma forma de atuação, em que a performance técnica e tática é valorizada e avaliada sobretudo segundo modelos padronizados.
Essa tendência dissocia a Educação Física de um conceito de Educação, aproximando-se mais de um conceito de adestramento físico. Aliados a essa concepção, estão as tendências à militarização e à higienização, que perpassam a Educação Física.
A concepção antropológica implícita nessa tendência é de um profundo dualismo entre corpo e espírito. Educação Física, nessa perspectiva, visualiza sobretudo o corpo, vendo-o dissociado do homem com um todo ou como um instrumento da alma. O movimento deixa de ser o movimento de um ser total, cujo significado brota de sua interioridade, para tornar-se algo mecânico, direcionado desde fora e realizado com um mínimo de participação da sensibilidade e da afetividade, apenas uma reação a estímulos do meio.

Maria Augusta Salim Gonçalves

Simpósio de atividades físicas adaptadas

Entre os dias 17 a 20 de maio no SESC São Carlos, estará acontecendo a 15ª edição do " Simpósio de atividades físicas adaptadas". A finalidade, divulgar os conhecimentos produzidos por cientistas e profissionais da área de educação física adaptada, promovendo a inserção de pessoas de diversas faixas etária com necessidades especiais, em atividades esportivas e físicas.
Será realizado debates buscando assim conscientizar  da necessidade de evitarmos preconceitos e discriminação em relação às nossas diferenças, considerando a importância de se valorizar uma visão holística dos seres humanos. 
Público alvo: professores e alunos de educação física, fisioterapia, psicologia, educação especial, pedagogia.

Inscrições até o dia 13 de maio.

Mais informações: