O sempre surpreendente
Guimarães Rosa dizia: " o animal satisfeito dorme". Por trás dessa
aparente obviedade está um dos mais fundos alertas contra o risco de cairmos na
monotonia existencial, na redundância afetiva e na indigência intelectual. O
que o escritor tão bem percebeu é que a condição humana perde substância e
energia vital toda vez que se sente plenamente confortável com a maneira como
as coisas já estão, rendendo-se à sedução do repouso e imobilizando-se na
acomodação.
A
advertência é preciosa: não esquecer que a satisfação conclui, encerra,
termina; a satisfação não deixa margem para a continuidade, para o
prosseguimento, para a persistência, para o desdobramento. A satisfação acalma,
limita amortece.
Por
isso, quando alguém diz " fiquei muito satisfeito com você" ou "
estou muito satisfeito com teu trabalho", é assustador. O que se quer
dizer com isso? Que nada mais de mim se deseja? Que o ponto atual é meu limite
e, portanto, minha possibilidade? Que de mim nada mais além se pode esperar?
Que está bom como está? Assim seria apavorante; passaria a ideia de
que desse jeito já basta. Ora, o agradável é quando alguém diz: " teu
trabalho é bom, fiquei muito insatisfeito e, portanto quero mais, quero
continuar, quero conhecer outra coisas".
Mario
Sergio Cortella
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